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terça-feira, 14 de abril de 2020

O menino que virou rei- parte II


por Rosemeire Barbosa

Desde a época da Rádio Cachoeiro, Roberto Carlos já se portava como um profissional. Ele se preparava e segundo Zé Nogueira que orientava o garoto no aprendizado do violão, comentou que os dedos do garoto eram pequenos e ele tinha dificuldades em fazer as pestanas, por conta disso, o ensinava a fazer o fá maior da 4ª corda para baixo. 

Sempre cauteloso, Roberto anotava os tons maiores, menores e escrevia a letra da música em sua caderneta. Observava se o violão estava afinado e conferia seus tons de voz. 

O passo seguinte e natural, foi ganhar o próprio programa na Rádio Cachoeiro. Aos 11 anos, 1952, estreou um programa semanal de quinze minutos que começava pontualmente ao meio dia. Acompanhado dos violonistas Mozart Cerqueira (violão de 6 cordas) e Zé Bogueira ( violão de 7 cordas), o cantor-mirim desfilava um repertório de tangos, boleros e samba-canções, começando após o programa de Francisco Alves, na Rádio Nacional.

 Durante semanas, essa foi a rotina do cantor-mirim até que a dobradinha deixou de existir após  um desastre automobilístico vitimando Francisco Alves.

A Rádio Cachoeiro costumava levar seu elenco de cantores e músicos para se apresentarem em férias e eventos em cidades vizinhas, a chamada Caravana Musical. Quando Roberto participava, Zé Nogueira pedia autorização a dona Laura, se responsabilizando pelo garoto. 

Em uma dessas excursões, o garoto viajou com o dono da Rádio Cachoeiro, Alceu Fonseca (pai da Magda Fonseca, onde anos depois se reencontraram quando Roberto Carlos foi para o Rio de Janeiro) que naquela semana veio fazer uma visita à emissora.

 Nesse dia o menino subiu no palanque da praça central e soltou a voz cantando o tango"Mano a Mano" de Carlos Gardel, versão em português cantada por Albertino Fortuna:

"Naufragado na tristeza/hoje veio o desatino/que tu foste em meu destino/uma mulher, nada mais..."

Sua voz começava a expandir para além de Cachoeiro. Percebendo o crescente interesse pela prática musical, em 1954, Dona Laura matriculou Roberto no Conservatório de Música de Cachoeiro. Ali as profªs Helena Gonçalves e Elaine Manhães, ensinavam às quartas e sextas, aulas de piano. Nessa época, o instrumento era mais estimulado para as meninas. O acordeon acabou sendo o mais direcionado aos meninos que queriam seguir a música. O menino Roberto Carlos costumava a tocar de ouvido, mesmo sendo orientado a aprender a ler as partituras.

 Zé Nogueira formou um conjunto de baile que se apresentava todos os domingos na Casa do Estudante de Cachoeiro de Itapemirim. Roberto sempre junto, ora tocava maracás ou bangô, ora cantando seu repertório de tangos, boleros e samba-canções. 

Zé Nogueira tinha dois crooner, Maria Angélica e Nilo Correia. Sempre a dupla se revesava no palco, mas dava uma brecha para o cantor-mirim cantar.

 Um dos números mais aplaudidos do garoto era Coimbra de Raul Ferrão e José Galhardo. Anos depois Roberto Carlos gravou essa música como lembrança de seu tempo de crooner mirim.

Em agosto de 1955, a Rádio Cachoeiro promoveu um evento para ajudar financeiramente Genaro Ribeiro que estava com tuberculose. Nesse dia acompanhado do Regional-9 Roberto Carlos interpretou o samba-canção Olinda. Treze dias depois ocorreu o falecimento do amigo da rádio, Roberto começou a pensar em abandonar os microfones de Cachoeiro com o objetivo maior de cantar nas emissoras de rádio do Rio de Janeiro cujos programas radiofônicos ditavam os sucessos do Brasil.

Rosemeire Barbosa- Estúdio Azul

Sobre a autora

Rosemeire Barbosa- Estúdio Azul - Natural e residente na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, formada em Magistério pela E.E.S.G. “Sud Mennucci” com habilitação para exercer a profissão de professora em 1996. Aprovada no Concurso Público de prova e Títulos para provimento de emprego de Professor do Ensino Fundamental em 14 de janeiro de 1999. Em 1 de fevereiro de 2001, foi contratada pela Prefeitura Municipal de Piracicaba, na pasta da Secretaria da Educação com habilitação para alunos do 1º ao 5º ano. Leia Mais sobre a autora...

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