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terça-feira, 7 de abril de 2020

O menino que virou rei - Parte I

 por Rosemeire Barbosa

A voz do menino Roberto Carlos Braga foi mostrada ao público pela primeira vez quando ele tinha apenas 9 anos, em uma manhã de domingo, pouco depois das 9 hs., no mês de outubro de 1950. Ele era mais uma das crianças que se apresentavam no Programa Infantil da ZYL-9, Rádio Cachoeiro, a única emissora da região. 

Um fato curioso que aconteceu na estreia do cantor-mirim é que o locutor do programa, Jair Teixeira não foi trabalhar nesse dia e os músicos do Regional L-9, também não estavam lá para acompanhar o garoto, estando apenas um dos músicos, José Nogueira, um violonista recém contratado pela emissora.

 Apesar do desfalque dos músicos, o Programa Infantil transcorreu normalmente de acordo com o operador de áudio, Bernardino Pim, filho do diretor da rádio, Gastão Pim. Quando o locutor Marques da Silva anunciou a vez de Roberto Carlos, o violonista Zé Nogueira deu o tom no violão e aproximando-se do microfone, o garoto cantou:
"Tu no sabes cuanto te quiero/tu no sabes que yo tenego para ti/tu no sabes que yo te espero para darte/amor,amor,amor y mas amor."

Esse bolero com a composição do espanhol Bobby Capó e foi lançada naquele ano, na voz do uruguaio Fernando Borelque, após ouvir inúmeras vezes, o garoto em seus 9 anos,  cantou do jeito que ouvia na rádio. 

O Programa Infantil da Rádio Cachoeiro, era patrocinado pela Fábrica de Doces Esperança que distribuía as guloseimas para o auditório e aos calouros vencedores. O pequeno Zunga recebeu seu prêmio por ter vencido... um punhado de balas. 

 O violinista que acompanhou o garoto nesse dia, José Nogueira,  teve a ideia de convidá-lo para participar na semana seguinte também, uma vez que o apresentador e também os músicos do Regional L-9 estariam. Com os olhos brilhantes o garoto indagou:"
- Posso voltar?
-Pode, quantas vezes quiser.

O menino que saiu de manhãzinha de casa anônimo, voltou da rádio ao meio dia, artista.
-Meu filho, vc cantou tão bonito! - disse D. Laura.
-Pois é mãe... Agora eu quero ser cantor. - disse alegremente o garoto para a mãe. 

O menino Roberto Carlos cresceu ouvindo de tudo: baiões de Luiz Gonzaga, xaxados de Pedro Raimundo, modas de viola de Tonico e Tinoco, sambas-canções de Lupicínio Rodrigues e marchinhas carnavalescas de Emilinha Borba e Marlene

A parte internacional também era grande, pois tocava-se muitas músicas estrangeiras no país, tanto em versões como originais, como: valsas, fado, fox, foxtrote, principalmente tangos e boleros. 

O conhecimento musical era grande, então nos três primeiros domingos, Roberto foi o mais aplaudido pelo público. Não houve concorrente que conseguisse tirá-lo do trono. Ele então tornou-se um participante hour-concours do Programa Infantil. Ele não concorria mais com os outros garotos, simplesmente ensaiava um número com o regional para cantar na abertura ou final do programa.

 Agradou tanto que semanas depois passou a cantar dois números, abrindo e encerrando o programa. Foi ali que começou a desenvolver a sua intimidade com o palco, o público e o microfone. Quando não cantava um bolero mexicano ou um tango argentino, cantava os sambas-canções de Nelson Gonçalves

Nessa época, cantou também em outros programas como o Vendaval da Alegria comandado pelo cantor Genaro Ribeiro nas noites de domingo com direito a receber o seu primeiro cachê: 600 cruzeiros velhos.

Rosemeire Barbosa- Estúdio Azul

Sobre a autora

Rosemeire Barbosa- Estúdio Azul - Natural e residente na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, formada em Magistério pela E.E.S.G. “Sud Mennucci” com habilitação para exercer a profissão de professora em 1996. Aprovada no Concurso Público de prova e Títulos para provimento de emprego de Professor do Ensino Fundamental em 14 de janeiro de 1999. Em 1 de fevereiro de 2001, foi contratada pela Prefeitura Municipal de Piracicaba, na pasta da Secretaria da Educação com habilitação para alunos do 1º ao 5º ano. Leia Mais sobre a autora...

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